Dinâmica geral da produção física do setor industrial – IBGE novembro de 2022

Postado por: Fernando Farias

Texto para discussão – Autor – Dr. Fernando Rodrigo Farias – Professor de Geografia UFMS/CPAQ.

A indústria nacional é um importante setor produtivo responsável por significativa fatia da formação do Produto Interno Bruto brasileiro. Além disso, o setor industrial é importante para a geração de empregos. Mesmo que tenha representado aproximadamente apenas 16% dos empregos formais em 2020 conforme apontam dados disponíveis do Rais (2020) é um setor de muita relevância para o mercado de trabalho.

O setor é o terceiro em importância na geração de empregos. Em 2020, gerou 7.573.595 empregos, sendo que o maior destaque na empregabilidade é a indústria de transformação que abrigou em 2020 um estoque de 6.857.500 empregos formais o que representou 90,54% dos empregos formais do setor (RAIS 2020).

Outro fator importante está relacionado a remuneração salarial média. A média salarial do setor em 2020 considerando a média geral de todos os graus de instrução foi de R$ 3.344,41. Entretanto, se considerarmos a remuneração média com nível de instrução (ensino superior completo) a média salarial sobe para R$ 5.339,43 (RAIS 2020).

Quadro 1- Remuneração média conforme o nível de instrução no ano de 2020 (R$)

                                                      Brasil
Setor Remuneração média (todos os graus de instrução Remuneração com curso superior
Serviços 3.785,54 6.466,94
Comércio 2.203,79 8.745,81
Indústria 3.344,44 5.339,43
Construção 2.478,69 5.776,23
Agropecuária 2.046,2 5.666,24
                                                         Mato Grosso do Sul
Serviços 3.896,79 6.635,29
Comércio 2.127,34 4.025,99
Indústria 2.647,74 6.312,66
Construção 2.230,5 4.808,51
Agropecuária 2.262,57 4.708,36

Fonte: RAIS 2020

Disponíveis em: https://corta.link/DJNc1

A divulgação da PIMPF tendo como referência o mês de setembro de 2022, envolve os grandes setores industriais. Os resultados mostraram que a maior parte dos setores enfrentaram sérias dificuldades obtendo crescimento negativo.

O processo de deterioração do setor industrial vem de longa data no Brasil. Ao longo da história, o país vem enfrentando um processo em que os economistas chamam de  “desindustrialização”. Tendência esta que  iniciou ainda na década de 1980, afetado principalmente pelos efeitos negativos da dívida externa. Na ocasião, a economia brasileira perdeu capacidade de poupança devido ao fato de que as empresas estatais que eram responsáveis por grande parte da poupança precisaram ser usadas para controle da inflação (BRESSER PEREIRA 2019).

Os dados recentes publicados pelo IBGE (2022), mostram esta tendência, ou seja, em 2002 o setor industrial era responsável por 26,37% do PIB nacional. Este índice caiu para 21,8% em 2019 sendo que em 2020 o índice subiu um pouco e foi para 22,51%[1].

O objetivo principal do presente texto para discussão, é propor uma reflexão inicial acerca da PIMPF – Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física divulgada pelo IBGE no mês de novembro de 2022. Na presente reflexão estão inseridos alguns dos principais elementos correlacionados ao dinamismo industrial  a exemplo do crescimento econômico, nível de investimento além de uma breve análise acerca dos principais fatores do desempenho industrial até setembro de 2022 publicado pelo instituto no mês de novembro.

O conteúdo principal do presente texto é reflexivo e está vinculado às linhas gerais do propósito do presente observatório geoeconômico (OBSERVA-GEO/UFMS) . Objetiva-se principalmente, provocar o debate acadêmico e social, incentivar novas pesquisa e novas investigações acerca do tema.

Portanto, a problemática principal do presente texto é:

Qual a importância central do setor industrial para a economia?

Quais os principais fatores que tem prejudicado o desempenho do setor industrial brasileiro?

As partes que compões o presente texto para discussão são:

a) Considerações iniciais; b) considerações gerais e tentativa de uma breve visão histórica recente do crescimento econômico, elementos do nível de investimento geral no Brasil, efeitos de algumas medidas econômicas recentes que podem significar gargalos ao setor industrial; c) breve análise acerca do desempenho da  PIMPF publicado pelo IBGE.

CRESCIMENTO ECONÔMICO – INVESTIMENTOS E DINÂMICA GERAL

De acordo com Bresser Pereira (2019), o Brasil entre 1950 a 1980 obteve um crescimento econômico médio de 4,5% ao ano. Já a período após a década de 1980 o crescimento médio foi de apenas 0,9%. O crescimento econômico é fator correlato ao desempenho industrial afinal, a indústria produz se há consumo e só há consumo se houver crescimento econômico.

Existem inúmeros fatores que contribuem para a desaceleração do crescimento industrial. A queda nos investimentos totais é um deles. Conforme aponta Bresser Pereira (2019), a taxa total média de investimento no Brasil entre as décadas de 1971-1980 era de 25,8% do PIB. Já entre 2011 – 2017 o índice caiu para  20,7% do PIB. De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (2022), a taxa atual (2022) de investimentos da economia brasileira ficou em torno de 18,4% ao ano .  Já a média de investimento no mundo é de 27,3% do PIB, e a média de investimento nos países da América Latina é de 20,5% do PIB.

Se compararmos os índices de investimentos de outros países específicos principalmente aqueles que vem se destacando na dinâmica da concorrencial mundial a exemplo da China e da Coreia do Sul, os dados da CEIC DATA (2022), apontam que os respectivos países investem 43 % e 31,5% do seu produto interno bruto.

O baixo índice de investimento é apontado pelos economistas brasileiros como um dos grandes responsáveis pelo baixo crescimento econômico e desenvolvimento industrial no país. Esta dinâmica tem gerado preocupação dos formuladores de política econômica. Conforme Bresser Pereira (2019), o baixo dinamismo econômico e industrial do Brasil além de não possibilitar a chamada capacidade de aprender (catching up)[2] vem distanciando ainda mais o Brasil das economias industrializadas do centro do sistema.

Quadro 2- Panorama dos investimentos em infraestrutura no Brasil 2018-2022.

Ano Despesas previstas (bilhões R$). Despesas executadas (bilhões R$). % do orçamento executado. Percentual do gasto público.
2018 27,04 15,55 57,51 0,63
2019 26,47 13,01 49,15 0,52
2020 28,44 8,22 28,90 0,25
2021 23,47 6,7 28,55 0,18
2022 27,92 5,63 20,16 0,16

Fonte: Ministério da infraestrutura 2022.

Disponível em: https://www.portaltransparencia.gov.br/orgaos-superiores/39000?ano=2022

Os investimentos no setor de infraestrutura[3] é também considerado fator importante para o desenvolvimento e dinamismo industrial afinal, investir neste setor significa investimentos em setores indispensáveis para o desenvolvimento da indústria geral. Mais infraestrutura significa mais eficiência no setor produtivo, menos custos de produção por consequência maior será o nível de competitividade.

Em relação aos investimentos no setor de infraestrutura, é importante analisarmos os dados do Portal Transparência do ministério da infraestrutura no qual mostram que no período recente houve queda significativa nos investimentos no setor de infraestrutura. Ou seja, o valor destinado no período entre 2018 e 2022 se manteve na média de 26,6 R$ bilhões anuais. Porém, houve alteração no percentual executado que caiu de 57,51% em 2018 para 20,16% em 2022. Além disso, o percentual gasto em infraestrutura vem caindo, ou seja, se em 2018 representava 0,63% do total de gastos público em 2022 o índice caiu para 0,16%. Do total investido em infraestrutura 68,37% foi destinado a investimentos em transporte ficando outros setores como a energia com parcelas muito baixas para investimentos.

Este conjunto de fatores faz com o setor industrial perca desempenho. Os dados publicados pelo IBGE (2022), mostra que o setor vem passando por grandes dificuldades. O baixo crescimento econômico afeta diretamente o desempenho industrial.

Quadro 3- Média do crescimento do PIB a preços de mercado.

Período Média de crescimento no ano (%)
Média dos trimestres em 2014 1,75
Média dos trimestres em 2015 -1,93
Média dos trimestres em 2016 -4,08
Média dos trimestres em 2017 -0,35
Média dos trimestres em 2018 1,85
Média dos trimestres em 2019 1,33
Média dos trimestres em 2020 -1,68
Média dos trimestres em 2021 2,18

Fonte: IBGE (2022).

Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/co

Outros fatores podem ser apontados como coadjuvantes pelo baixo dinamismo econômico e industrial. Podemos citar o perfil das estratégias de medidas econômicas adotadas historicamente no Brasil. De modo geral as políticas adotada no país apresentam grandes dificuldades de planejamento. Há normalmente a prioridade de políticas de efeito imediato de curto prazo, e menos importância as políticas de médio e longo prazo aquelas que irão gerar “capacidade ociosa” para serem acionadas no momento oportuno de expansão econômica.

Podemos citar como um dos exemplos, o caso recente da emenda complementar aprovada e publicada no dia 22/03/2022 pelo Comitê Executivo de Gestão (GECEX) da Câmara de Comércio Exterior (COMEX), do Ministério da Economia que zerou os impostos para importações de importantes produtos produzidos pelo complexo agroindustrial brasileiro a fim de controle da inflação.

Estão inseridos nesta medida, o caso do café torrado e óleo de soja onde ambos possuíam alíquota de impostos com incidência de 9%  nas importações e passaram a ter alíquota zero. Mesmo caso para o açúcar e macarrão com alíquota de  14,4%, margarina 10,8% e o etanol com incidência de 18% nas importações  (Ministério da Economia 2022).

Os efeitos econômicos gerados pelas alíquotas zeradas de produtos importados com a intenção de aumentar a oferta e possível queda nos preços ao consumidor, podem gerar algum efeito  positivo imediato no controle da inflação via aumento da demanda interna. No entanto, o resultado a longo prazo da medida o processo é relativo. O motivo da recente inflação brasileira não é necessariamente apenas “por excesso de demanda” mas, podemos citar o aumento do custo de produção (política cambial, alta do preço das commodities, alta dos combustíveis) que acabaram encarecendo o produto final ao consumidor.

A ausência de políticas estratégicas de longo prazo, ausência de políticas nacionalistas a exemplo do movimento de privatização de setores estratégicos a exemplo da fabricação de fertilizantes durante a década de 1990 fizeram com que hoje o setor agrícola brasileiro esteja dependente da importação da maior parte dos fertilizantes utilizados pela agricultura. De acordo com Castro e Silva (2020),   92% do potássio, 73% do nitrogênio e 46% do fósforo. Fator este que pode ter ser considerado como um dos fatores que  influenciou no atual nível de inflação. Ou seja, a falta de autonomia brasileira na produção de fertilizantes ficando dependente da importação, é um dos motivos que fez com que aumentasse os custos de produção causando perda de competitividade. Afina, em períodos de crise a exemplo dos efeitos da recente guerra entre a Rússia e a Ucrânia os custos de importação de fertilizantes se elevaram substancialmente. De acordo com IPEA (2022), a Rússia e Bielorrússia respondem por 30,5% das exportações de fertilizantes potássico no mundo. O Brasil por ter uma das mais avançadas agricultura do mundo é o maior importador de fertilizantes do mundo.

O controle da inflação envolve inúmeros fatores inclusive a presença de políticas de longo prazo e não apenas políticas paliativas . Como afirmou Rangel (1986), o controle dos preços dos gêneros alimentícios e bens duráveis a fim de manter o poder de compra dos trabalhadores mantendo sob controle a inflação, envolve uma série de informações correlatas e não ocorre de forma automática. Ou seja, o controle do  meio circulante (mercadoria) mantendo equilíbrio em seu nível de oferta e procura é apenas um dos fatores. Há outros como a controle dos Oligopsônios e oligopólios que muitas vezes manipulam os preços e custos de produção fazendo com que nem sempre uma oferta elástica de produtos significa estabilização do índice dos preços.

Portanto, medidas como esta de alteração da política de importações para fins de efeitos imediatos, poderá gerar problemas a longo prazo. Poderemos criar problemas internos como o atraso estrutural e tecnológico de importantes cadeias produtivas. É exemplo disso, a indústria de etanol onde o país investiu e possui grandes vantagem comparativas e uma estrutura industrial montada que a partir de então, passou a concorrer com o mercado global facilitado pelas importações podendo prejudicar a indústria nacional de etanol, setor este tão importante que está vinculado a medidas climática ambiental no qual o Brasil precisará se enquadrar.

De acordo com Pelegi (2017), até 2030 o Brasil terá que possuir 18% de sua matriz energética com biocombustíveis. Este percentual está acoplado ao comprometimento firmado pelo Brasil junto a Conferência do Clima de Paris (COP21).

Outros produtos como a margarina e óleo de soja, incluídos na alteração da política de importação, participam da mesma lógica. É importante destacar que há uma indústria nacional desses produtos que por meio das grandes cooperativas agroindustriais apresentam grande capacidade produtiva e forte dinamismo econômico interno e externo.

O aumento da inflação principalmente alimentos básicos de consumo da população não está relacionado apenas ao aumento da demanda que faz com que os preços subam (tendência). Outro fator que pode ser apontado como um dos responsáveis pelo aumento da inflação é a estratégia recente da medida política e econômica de diminuir os estoques reguladores. Com o fim dos estoques reguladores, o estado brasileiro perde um importante instrumento de regulação dos preços internos. Perde por exemplo a capacidade de quando os preços dos alimentos estivem aumentando e prejudicando a vida da população, aumentar a oferta no mercado usando os estoques reguladores para que o custo de produção se mantenha. O controle da inflação é importante, considerando que aproximadamente 80% da população brasileira possui baixa renda como mostra o IBGE (2010)[4}, no entanto, as políticas adotadas precisam contemplar não apenas medidas imediatas.

De acordo com Vasconcellos (2020), nos últimos 10 anos os estoques nacionais tiveram redução de 96% na média anual. Produtos importantes que alimentam as cadeias de carnes e leite a exemplo do milho que em 2010 os estoques eram de 5.364,9 toneladas e em 2020 caiu para 236,7 toneladas apenas. Produtos como o feijão, arroz, trigo e a soja os estoques caíram mais de 99% nos últimos 10 anos.

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O DESEMPENHO DA INDÚSTRIA FÍSICA BRASILEIRA – REFERÊNCIA (MÊS DE SETEMBRO DE 2022).

Os dados apresentados pela PIMPF (Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física) referente ao mês de setembro de 2022 mostram parte desta problemática acumulada na atualidade. Dos 28 grandes setores industriais analisados pelo IBGE, apenas, 7 grandes setores apresentaram crescimento positivo na variação acumulada nos últimos 12 meses. Os setores que cresceram nos últimos 12 meses foram:

Quadro 4- Setores da indústria que apresentaram crescimento positivo no acumulado dos últimos 12 meses no Brasil.

Setores %
Fabricação de bebidas 0,6
Fabricação de produtos do fumo 6,2
Fabricação de celulose, papel e produtos de papel 3,5
Fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis 6,8
Fabricação de outros produtos químicos 2,7
Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores. 7,2
Manutenção de máquinas e equipamentos 2,1

Entre os setores que cresceram destacam-se o setor de fabricação de coque[5]  que é um derivado de carvão utilizado como combustível principalmente na indústria de ferro e aço que teve crescimento de 6,8% nos últimos 12 meses. Conforme dados do Comex (2021)  http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis na comparação janeiro a outubro de 2022 o grupo de produtos ao qual pertence exportou 5.400,52 toneladas teve alta de  804,4% no volume exportado no período[6}.

O volume financeiro (US$) das exportações de Coques e semicoques, incluindo resíduos de hulha, de linhita ou de turfa, e carvão de retorta cresceram 196% no acumulado janeiro de 2021 a outubro de 2022. O principal destino é a Argentina com 74,6% do mercado. O estado do Espírito Santo é o maior produtor (64,6%) e Santa Catarina (15,7%) (COMEX 2022).

Outro setor que obteve crescimento positivo foi a indústria de fabricação de equipamentos transporte que obteve crescimento de 7,2% na comparação dos últimos 12 meses.  Um dos fatores observados  como possibilidade de justificar este aumento é em relação ao mercado externo que apresentou saldo positivo. Conforme gráfico 1, o volume exportado nos últimos 12 meses somou US$ 286.652.551,00 (COMEX 2022).

Quadro 5- Exportações de produtos de Fabricação de equipamentos de transporte (US$).

Ano Mês Descrição
Valor FOB (US$) Variação
2021 01 Fabricação de equipamentos de transporte 10.679.022,00   –
2021 02 Fabricação de equipamentos de transporte 10.759.006,00 0,75
2021 03 Fabricação de equipamentos de transporte 11.506.613,00 6,95
2021 04 Fabricação de equipamentos de transporte 16.163.586,00 40,47
2021 05 Fabricação de equipamentos de transporte 13.383.197,00 -17,20
2021 06 Fabricação de equipamentos de transporte 12.444.877,00 -7,01
2021 07 Fabricação de equipamentos de transporte 12.982.224,00 4,32
2021 08 Fabricação de equipamentos de transporte 18.981.875,00 46,21
2021 09 Fabricação de equipamentos de transporte 13.959.288,00 -26,46
2021 10 Fabricação de equipamentos de transporte 15.091.041,00 8,11
2021 11 Fabricação de equipamentos de transporte 10.994.325,00 -27,15
2021 12 Fabricação de equipamentos de transporte 13.560.401,00 23,34
2022 01 Fabricação de equipamentos de transporte 9.536.896,00  –
2022 02 Fabricação de equipamentos de transporte 12.150.258,00 27,40
2022 03 Fabricação de equipamentos de transporte 8.012.228,00 -34,06
2022 04 Fabricação de equipamentos de transporte 15.459.866,00 92,95
2022 05 Fabricação de equipamentos de transporte 11.503.855,00 -25,59
2022 06 Fabricação de equipamentos de transporte 13.366.097,00 16,19
2022 07 Fabricação de equipamentos de transporte 16.574.870,00 24,01
2022 08 Fabricação de equipamentos de transporte 17.947.025,00 8,28
2022 09 Fabricação de equipamentos de transporte 21.596.001,00 20,33

Fonte: Comex 2022).

O quadro 5 mostra que as exportações de produtos de Fabricação de equipamentos de transporte se mantiveram aquecido nos últimos 12 meses. Com pequenas oscilações entre novembro de 2021 a março de 2023. A partir de abril de 2022 inicia-se um processo de aceleração do volume financeiro exportado.

O quadro número 4 mostra os setores industriais que apresentaram desempenho negativo na pesquisa do IBGE no acumulado entre setembro de 2021 a setembro de 2022.

Quadro 6- Setores da indústria que apresentaram crescimento negativo no acumulado dos últimos 12 meses no Brasil.

Setores Variação de crescimento no acumulado dos últimos 12 meses (Base setembro 2022).
Indústria geral -2,3
Indústrias extrativas -2,9
Indústrias de transformação -2,2
 Fabricação de produtos alimentícios -1,9
Fabricação de produtos têxteis -15
Confecção de artigos do vestuário e acessórios -9,8
Preparação de couros -4,2
Fabricação de produtos de madeira -6,4
Impressão e reprodução de gravações -6,3
Fabricação de sabões -4,9
Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos -5,9
Fabricação de produtos de borracha e de material plástico -8,1
Fabricação de produtos de minerais não metálicos -4,2
Metalurgia -5,5
Fabricação de produtos de metal -11,8
Fabricação de equipamentos de informática -4,5
Fabricação de máquinas elétricas -13
Fabricação de máquinas e equipamentos -0,6
Fabricação de veículos automotores

-2,6

Fabricação de móveis -19,3
Fabricação de produtos diversos -4,2

Fonte: Comex 2022).

Os destaques principais que mais chamam a atenção e que obtiveram crescimento negativo são setores como o de confecção de artigos de vestuário (-9,8%); produtos têxteis (-15%); produtos à base de metal (-11,8%) e fabricação de móveis (-19%).

Se para os setores industriais analisados que apresentaram saldo positivo as exportações apresentaram crescimento expressivo, para os setores que apresentaram saldo negativo, o mercado externo não foi favorável.

De acordo com dados do Comex (2022), a exportação de produtos têxtil a exemplo de tecidos de algodão apresentou queda. Se em março de 2022 atingiu um pico do US$ 22,5 milhões exportados em setembro de 2022 o volume exportado foi de US$ 12,1 milhões. Só no acumulado de janeiro a outubro de 2022 a variação foi de -4,5%. O principal mercado brasileiro para este setor é Argentina com 22,9% de participação; Colômbia com 24,44%; Peru 7,78%. Os principais estados brasileiros da indústria têxtil são Minas Gerais (32,6%) da produção nacional, Ceará (24,14%), São Paulo (17,8%), Rio Grande do Norte (17,3%).

Outro produto que apresentou queda nas exportações no período analisado foi a produção de fios têxtil. A queda ocorreu principalmente a partir de junho de 2022 quando o país exportou um volume de US$ 20,9 milhões. Já em setembro de 2022 apresentou queda de 17,7% atingindo pouco mais de US$ 17 milhões no volume exportado. Os principais destinos são Argentina (29,2%) do mercado externo, Colômbia (9,48%), Estados Unidos com 8,35%. Os estados brasileiros produtores de fios têxtil – São Paulo (61,2%), Santa Catarina (17,5%) e Paraná 7,29% da produção nacional (COMEX 2022).

O setor de metalurgia foi outro dos setores que apresentou crescimento negativo (-5,5%). As exportações de alumínio por exemplo apresentaram queda. O volume das exportações caiu significativamente a partir de junho de 2022 o que pode ter contribuído para o crescimento negativo. Em junho de 2022 o país exportou US$ 213 milhões (+21,8% em relação ao mês anterior). Já em julho de 2022 foram exportados US$ 115 milhões (- 38% em relação ao mês anterior). Setembro de 2022 com pequena reação atingindo US$ 135 milhões. Entre janeiro e outubro de 2022 foram exportados 411.955,4 (variação de -38,3% variação. Janeiro – outubro 2022). O destino principal das exportações de alumínio são China (20,5%), Índia (14,3%), Argentina (8,58%). Os estados produtores brasileiros são – São Paulo (32,6%), Santa Catarina (30,2%), Espírito Santo (9,41%). Entre janeiro e outubro de 2022 a variação do volume exportado foi de -38,3% (COMEX 2022).

O setor de metal, também apresentou queda de -11,8% entre setembro de 2021 a setembro de 2022. Um dos fatores a ser considerado é a queda no volume exportado de Minério de ferro e seus concentrados que na comparação de janeiro a outubro de 2022 sofreu variação de -5%. Todos os principais mercados de destino sofreram variação negativa. O mercado chinês que responde por mais de 60% das exportações de minério entre setembro de 2021 a setembro de 2022 a queda foi de (- 39,2%), ou seja, menos US$ 10 bilhões só neste período. Até para a vizinha Argentina (2% do mercado) a queda neste período foi de (- 17,4%). Pará e Minas Gerais respondem por 86,6% da produção nacional (COMEX 2022).

O setor de fabricação de máquinas elétricas também apresentou crescimento negativo (-13). Os dados do Comex (2022) mostram que entre janeiro a outubro de 2022 o destino deste tipo de mercadoria para a China recuou (-25,9%). A variação geral no mesmo período sofreu queda de (-11,7%). O principal mercado de máquinas elétricas é a Argentina que em 2022 já importou do Brasil US$ 256 milhões desta mercadoria e representa 38% do mercado. Em 2022 a variação entre Brasil e Argentina em Máquinas elétricas sofreu variação positiva de 40,2%. Os estados brasileiros onde as indústrias de transformação deste segmento se encontram em São Paulo com 52% da produção, Rio Grande do Sul com 13,7%, Pernambuco 13%, Paraná com 10,9%.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sobre a dinâmica geral do desempenho do setor industrial é importante destacar:

  • O setor, representa uma importância muito grande para a economia dos países.
  • É um setor produtivo que engloba uma enorme cadeia produtiva que eleva a agregação de valor da produção elevando o crescimento do PIB.
  • Demanda uma infinidade de serviços acoplados a indústria.
  • Representa um setor que paga salários mais elevados que a média geral de outros setores.
  • Possui grande capacidade de estimular a inovação tecnológica.
  • Os países mais desenvolvidos do mundo têm o setor da indústria de transformação e desenvolvimento tecnológico como importantes prioridades.
  • No caso brasileiro a indústria precisa voltar a receber investimentos a longo prazo. Temos setores industriais altamente capacitados a exemplo da indústria de transformação e também indústrias nacionais com grande capacidade de inovação.

Notas explicativas.

(Nota 1) Para acessar os dados do PIB por setor poderá ser acessado – https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pib-munic/tabelas.

(Nota 2) O processo de catching-up capacidade de aprender e entender o dinamismo de uma tecnologia já desenvolvida, mas que precisa ser entendida, aprendida e passível de cópia ou inovação é considerada uma fonte vital para o aumento da produtividade em quase todos os ramos de atividades tanto em países desenvolvidos quanto em países em processo de aprendizado (KIM 2005).

(Nota 3) .Fazem parte do setor de infraestrutura os investimentos em rodovias, usinas hidrelétricas, portos, aeroportos, rodoviárias, sistemas de telecomunicações, ferrovias, saneamento.

(Nota 4)Se os preços de mercado de produtos básicos como a soja, milho e o trigo que são matérias prima das cadeias produtivas do complexo agroindustrial de alimentos de carne e leite, a tendência é aumentarem os custos de produção que automaticamente serão repassados ao consumidor. Por isso, a importância de estoques reguladores. No geral, países desenvolvidos tem grande preocupação como estoques. Países como a China é outro exemplo de país com capacidade de estoque tanto para controle da inflação quanto em eventuais crises econômicas ou catástrofes naturais.

(Nota 5) No ano de 2021 houve tendência de alta no mercado deste segmento de acordo com Stringer; Murtaugh; Bloomberg (2021) a demanda global estava em alta tendo a Ásia como o principal destino da demanda. Os preços do carvão no referido ano subiram a índices recordes (mais de 50%). Países como China, Índia e Estados Unidos utilizaram mais carvão contribuindo para a necessidade de mais demanda.

(Nota 6) Para acessar os dados na íntegra acesse: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis

REFERENCIAS UTILIZADAS.

CASTRO, Nicole Rennó; SILVA, Adriana Ferreira; GILIO, Leandro. DESEMPENHO E INTER-RELAÇÕES DO SETOR DE FERTILIZANTES: UMA ANÁLISE SEGUNDO A ÓTICA DE INSUMO-PRODUTO. Planejamento e Políticas Públicas, Goiania, v. 56, n. 8, p. 160-189, dez. 2020.

CEICDATA. China Investimento:% do PIB. São Paulo: 2022. Disponível em: https://www.ceicdata.com/pt/indicator/china/investment–nominal-gdp. Acesso em: 7 fev. 2023.

COMEX. Estatística do comércio exterior – 2022 – disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física – 2022. Disponível em: . https://sidra.ibge.gov.br/home/pimpfbr.

KIM, Linsu. Da imitação à Inovação: a dinâmica do aprendizado tecnológico da Coréia. Campinas SP: Unicamp, 2005.

MINISTÉRIO DA ECONOMIA: Governo Federal zera imposto de importação de seis alimentos e etanol. Brasilia, 22 mar. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/financas-impostos-e-gestao-publica/2022/03/governo-federal-zera-imposto-de-importacao-de-seis-alimentos-e-etanol. Acesso em: 8 fev. 2023.

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