Dinâmica geral do mercado de trabalho formal nos setores de serviços e Indústria em Mato Grosso do Sul (2021)[:]

Postado por: Fernando Farias

Texto produzido pelos professores: Fernando Rodrigo Farias e André Luiz de Carvalho – Professores do curso de Geografia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Aquidauana.

O Observatório de Geoeconomia e Análise Socioespacial Regional vem por meio de seu canal, publicar mais um texto cujo objetivo é contribuir para a discussão acerca da dinâmica do mercado de trabalho formal, abordando especificamente os setores de serviços e indústria no estado de Mato Grosso do Sul.

A partir do levantamento de dados publicados pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS 2021), a análise aborda os empregos formais dos setores de serviços e da indústria, desconsiderando as especificidades que dizem respeito a gênero, escolaridade ou faixa etária.

O objetivo central é apresentar e analisar como e onde estão distribuídos quantitativa e qualitativamente os empregos formais nestes importantes setores – serviços e indústria – possibilitando um melhor entendimento quanto aos impactos possíveis na hipótese de alterações substanciais dos resultados desses setores, seja para o mercado de trabalho, seja para a sociedade em geral no estado de Mato Grosso do Sul.

É importante ressaltar que o estado de Mato Grosso do Sul possui como uma das suas principais características socioeconômicas a concentração da renda, gerando impactos, muitas vezes negativos, sobre o mercado de trabalho em geral. Conforme será visto adiante, há ainda a concentração de alguns de seus indicadores em um número reduzido de seus municípios. Dessa forma, esses municípios acabam polarizando com os demais[1]. No entanto, não há, necessariamente, correlação entre o tamanho da população residente e o tamanho do PIB (Produto Interno Bruto), pois concorrerão aí os setores econômicos hegemônicos presentes em cada município e como estão distribuídos os empregos em cada um deles. Sendo assim, o município de Três Lagoas, com cerca de 54% da população do município de Dourados, apresenta quase o dobro do PIB per capita do segundo.

De acordo com o IBGE (2022), a capital Campo Grande concentra 24,56% do PIB estadual. O município que se encontra na segunda colocação, Três Lagoas, soma 9,48% do PIB. Se somarmos os percentuais dos municípios de Campo Grande, Três Lagoas, Dourados, Ponta Porã, Maracaju, Rio Brilhante, Corumbá e Sidrolândia, o total concentrado do produto interno atinge 56%.

Em relação ao número de empregos formais, mantêm-se a característica de concentração em poucos municípios. A capital Campo Grande, que detêm o maior percentual do PIB, concentrou 41,30% do total dos empregos formais (288.885 postos) do estado em 2021. O município de Dourados representou em 2021 9,63%, totalizando 67.360 empregos. Três Lagoas, o terceiro maior empregador representou 5,53%, um total de 38.660 empregos.     

A relação entre a estrutura econômica e o mercado de trabalho abre espaço para a análise qualitativa. Nem sempre os setores de maior percentual do PIB tendem a concentrar a maior quantidade de empregos.  Um importante fator a determinar o número de empregos é o desenvolvimento estrutural dos setores que precisam ser dinâmicos, os mais complexos e diversificados possíveis.

O estado de Mato Grosso do Sul apresenta os seguintes percentuais do PIB por setores: setor agropecuário com 23,7% do PIB total e 10,64% do total dos empregos do estado; indústria com 21,21% do PIB e 15,53% dos empregos; serviços 36,82% do PIB participando com 20,17% dos empregos e o serviço público participa com 18,27% do PIB e 31,27% do total dos empregos do Estado[2].

Gráfico 1- Percentual de participação dos setores econômicos em relação à geração dos empregos formais em Mato Grosso do Sul (%).

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS (2021)

O quadro 1 mostra a distribuição do produto interno bruto nos setores econômicos, em cada um dos municípios de Mato Grosso do Sul. Por outro lado, observando os resultados em nível estadual, e somando-se os setores de “Serviço” e “Serviço público”, tem-se o total de 55,13% do PIB estadual. Portanto, a enorme propaganda em favor do agronegócio (correspondente ao setor Agropecuário no Quadro 1), deve ser observada com relativa cautela já que, se forem considerados os “Serviços” somados, seus resultados representam mais da metade do PIB estadual. Além disso, há que se levar em consideração a média de salários pagos pelos setores, conforme será apresentada adiante.

  

Quadro 1- Produto interno bruto municipal por setor econômico em 2020 (%).

Município Agropecuário Indústria Serviço Serviço público Total
Estado (MS) 23,7 21,21 36,86 18,27 100
Água Clara 41,93 27,77 16,7 13,6 100
Alcinópolis 58,81 3,75 14,3 23,14 100
Amambai 28,36 8,08 38,94 24,62 100
Anastácio 20,04 16,85 32,68 30,43 100
Anaurilândia 47,59 6,6 22,15 23,66 100
Angélica 41,37 36,13 13,31 9,19 100
Antônio João 36,72 2,94 44,35 15,99 100
Aparecida do Taboado 26,13 32,37 25,9 15,6 100
Aquidauana 16,93 9,11 41,33 32,63 100
Aral Moreira 62,76 4,14 22,29 10,81 100
Bandeirantes 67,26 5,12 16,07 11,55 100
Bataguassu 9,43 37,72 33,41 19,44 100
Batayporã 43,58 19,2 18,7 18,52 100
Bela Vista 38,59 8,38 25,7 27,33 100
Bodoquena 23,5 25,23 24,1 27,17 100
Bonito 35,77 6,88 39,14 18,21 100
Brasilândia 69 3,5 13,71 13,79 100
Caarapó 39,24 19,5 28,42 12,84 100
Camapuã 47,7 4,7 28,03 19,57 100
Campo Grande 1,88 16,05 57,83 24,24 100
Caracol 48,72 3,1 14,52 33,66 100
Cassilândia 24,48 15,74 37,87 21,91 100
Chapadão do Sul 38,16 9,24 40,75 11,85 100
Corguinho 37,88 5,09 19,43 37,6 100
Coronel Sapucaia 33,36 5,43 20,81 40,4 100
Corumbá 15,04 13,53 38,61 32,82 100
Costa Rica 56,89 15,78 19,03 8,3 100
Coxim 22,12 9,1 43,63 25,15 100
Deodápolis 33,84 10,18 32,17 23,81 100
Dois Irmãos do Buriti 36,94 8,4 22,19 32,47 100
Douradina 40,96 3,81 28,37 26,86 100
Dourados 10,72 17,63 54,33 17,32 100
Eldorado 33,09 16,57 28,56 21,78 100
Fátima do Sul 15,15 20,04 41,02 23,79 100
Figueirão 53,88 3,57 15,68 26,87 100
Glória de Dourados 34,46 8,09 29,96 27,49 100
Guia Lopes da Laguna 40,98 12,06 24,91 22,05 100
Iguatemi 41,61 13,75 23,14 21,5 100
Inocência 41,31 9,5 24,66 24,53 100
Itaporã 42,36 6 34,13 17,51 100
Itaquiraí 40,42 19,95 23,34 16,29 100
Ivinhema 36,63 27,99 22,94 12,44 100
Japorã 36,07 3,3 12,72 47,91 100
Jaraguari 55,66 5,83 16,57 21,94 100
Jardim 18,18 6,87 45,97 28,98 100
Jateí 72,79 5,45 10,37 11,39 100
Juti 67,82 5,55 13,69 12,94 100
Ladário 3 5,77 37,58 53,65 100
Laguna Carapã 63,39 3,81 22,89 9,91 100
Maracaju 48,27 5,5 34,83 11,4 100
Miranda 22,12 6,13 34,97 36,78 100
Mundo Novo 10,37 24,26 41,22 24,15 100
Naviraí 21,88 27,34 33,7 17,08 100
Nioaque 28,77 20,11 24,71 26,41 100
Nova Alvorada do Sul 49,23 21,67 18,31 10,79 100
Nova Andradina 26,36 22,6 34,97 16,07 100
Novo Horizonte do Sul 58,52 5,99 20,18 15,31 100
Paraíso das Águas 55,87 26,69 11,24 6,2 100
Paranaíba 17,29 19,04 40,75 22,92 100
Paranhos 30,72 4,13 18,36 46,79 100
Pedro Gomes 43,89 4,7 26,74 24,67 100
Ponta Porã 38,11 8,76 36,87 16,26 100
Porto Murtinho 41,95 3,53 20,74 33,78 100
Ribas do Rio Pardo 70,69 5,25 10,9 13,16 100
Rio Brilhante 37,88 28,49 24,14 9,49 100
Rio Negro 31,12 4,53 25,59 38,76 100
Rio Verde de Mato Grosso 37,31 6,23 27,94 28,52 100
Rochedo 29,93 28,68 22,75 18,64 100
Santa Rita do Pardo 56,06 8,48 14,41 21,05 100
São Gabriel do Oeste 37,14 12,43 36,91 13,52 100
Sete Quedas 41,56 5,76 27,87 24,81 100
Selvíria 12,43 82,36 2,03 3,18 100
Sidrolândia 45,24 10,92 27,87 15,97 100
Sonora 46,66 16,85 20,49 16 100
Tacuru 46,18 3,82 17,7 32,3 100
Taquarussu 57,09 4,34 13,88 24,69 100
Terenos 40,77 15,23 19,88 24,12 100
Três Lagoas 8,73 58,61 23,78 8,88 100
Vicentina 34,09 30,07 18,27 17,57 100

Fonte: IBGE – Produto interno bruto dos municípios (2022)

Já o Quadro 2 apresenta o total de empregos por setores, em números absolutos e seus respectivos percentuais. Procedendo-se a soma do percentual do setor de comércio com o setor de serviços, ter-se-á o total de 70,66% ou, em números absolutos, 494.477 postos.

É também importante ressaltar que o setor industrial, mesmo enfrentando as dificuldades notórias no Brasil atualmente, consegue gerar cerca de 50% de postos a mais do que o setor agropecuário. Esse desempenho se dá muito em função da complexidade da cadeia produtiva do setor industrial, que apresenta uma divisão do trabalho que demanda mais postos.

Acompanhando os indicadores do PIB estadual, o setor de serviços que concentra 36,86% do PIB estadual concentrou a maior parcela dos empregos formais no estado em 2021, ou seja, 51,44% dos empregos formais (quadro 2 abaixo).

Quadro 2-Total de empregos celetista/estatutário em Mato Grosso do Sul por setor (2021).

Setor Número de empregos %
Total de empregos no setor agropecuário 74.411 10,64
Total de empregos no setor industrial 108.632 15,53
Total de empregos no setor do comércio 134.423 19,22
Total de empregos no setor de serviços 360.054 51,44
Total de empregos no setor de construção 22.164 3,17
Total 699.417 100

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS (2021)

Em relação à média salarial por setor, nota-se, de acordo com gráfico 2, que o setor de serviços é o que possui a maior média, registrando R$ 4.078,65. Em termos comparativos, essa quantia representa 43,2 % a mais do que a média alcançada pelo comércio; 41,7% a mais do que a média paga no setor agropecuário; 41,32% a mais do que a média paga no setor de construção; e 28,71% a mais do que a média registrada no setor da indústria.

Gráfico 2- Média salarial em Mato Grosso do Sul por setor econômico (R$).

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS (2021)

O quadro 3 mostra o perfil geral dos empregos no setor de serviços. Como já constatado em texto anterior publicado no presente observatório acerca da média geral dos empregos formais no Brasil (https://obgeo.ufms.br/observacoes-sobre-a-media-salarial-de-algumas-unidades-da-federacao-brasileira-em-2021/)  é o serviço público que impulsiona para cima a média salarial também no estado de Mato Grosso do Sul, conforme se verifica na sequência.

Do total dos empregos formais no setor de serviços em Mato Grosso do Sul, 60,78% pertencem ao setor de serviços públicos. O setor público possui renda média de R$ 5.067,04. Esse número é 54,29% maior do que a média alcançada no comércio; 53,07% maior do que a média registrada no setor agropecuário; 52,76% maior do que a média paga no setor de construção; 42,62% maior do que a média registrada no setor industrial; e 19,5% maior do que a média no setor de serviços, excetuando os serviços públicos.

Quadro 3- Perfil dos empregos do setor de serviços em Mato Grosso do Sul (2021)

Serviços N° de empregos % Média salarial (R$)
Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliária profissionais e administrativa 73.861 20,51 2.713,07
Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviço social 218.858 60,78 5.067,04
Transporte armazenagem e correio 30.711 8,53 2.581,03
Alojamento e alimentação 20.002 5,56 1.627,78
Outros serviços 16.606 4,61 2.102,26
Serviços domésticos 16 0,0044 1.894,44
Total 360.054 100

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS (2021)

Como já constatado, a capital, Campo Grande, concentra a maior parte dos empregos do setor público do estado. Do total de 218.858 empregos pertencentes ao setor público do estado, 118.421 empregos, ou seja, 54,10% estão localizados na capital do Estado.

Se analisarmos especificamente os dados do mercado de trabalho no setor de serviços na capital, nota-se que do total de 196.499 empregos formais no setor de serviços (que representa 68,02% dos empregos entre todos os setores na capital), uma soma de 118.421 empregos, ou seja, 60,27% pertencem ao setor público. Em relação à média geral da remuneração do setor público na capital Campo Grande, em 2021 ela foi de R$ 6.266,99, ou seja, 29,62% maior que a média geral do setor de serviços, que foi de R$ 4.834,68.

Quadro 4- Subdivisão do perfil dos empregos no serviço público

Subsetor N° de empregos % Média salarial (R$)
Saúde e serviço social 38.430 17,56 3.015,79
Educação 46.305 21,16 4.762,51
Administração pública, defesa e seguridade social 134.123 61,28 5.745,92
Total de empregos no serviço público 218.858 100

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS (2021).

No que respeita ao setor industrial, o estado de Mato Grosso do Sul vem apresentando um quadro de desenvolvimento que, pode-se dizer, ocorre através de “ilhas”, concentrando 15,53% do total de empregos na indústria.

Três municípios concentram 42% dos empregos no setor industrial: Campo Grande com um total de 22.266 empregos, correspondendo a 20,5% do total no estado; Dourados, que abrange mais de 30% das plantas industriais, participando com 12.687 empregos, com 11,68%; Três Lagoas, o mais recente polo industrial do estado, participa com 10.753 empregos no setor industrial, correspondendo a 9,9%. O setor de indústria de transformação concentra a maior parcela dos empregos no estado (quadro 5).

Quadro 5- Perfil dos empregos no setor industrial de transformação em Mato Grosso do Sul (2021)

Detalhamento do perfil dos empregos na Indústria em MS N° de empregos % Média salarial (R$)
Total de empregos no setor industrial 108.632 100 2.907,71
Total de empregos na Indústria de transformação 98.207 100 2.769,64
Fabricação de produtos alimentícios 50.529 51,45 2.769,64
Fabricação de coque e biocombustíveis 8.898 9,06 3.421,63
Fabricação de celulose e papel 6.800 6,92 4.947,17
Produtos minerais não metálicos 3.570 3,64 2.429,77
Produtos de metal (exceto máquinas) 3.446 3,51 2.402,82
Preparação de couro 3.218 3,28 2.073,22
Confecção de vestuários 3.108 3,16 1.635,07
Fabricação de borracha 2.421 2,47 2.807,53
Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos 2.394 2,44 2.348,42
Metalurgia 1.806 1,84 3.182,73
Têxtil 1.733 1,76 2.280,65
Fabricação de máquinas e aparelhos elétricos 1.627 1,66 2.472,84
Produtos diversos 1.579 1,61 1.871,04
Fabricação de produtos de madeira 1.432 1,46 2.825,44
Fabricação de produtos químicos 1.161 1,18 3.607,68
Fabricação de móveis 1.158 1,18 2.239,31
Bebidas 1.088 1,11 2.694,00
Máquinas e equipamentos 900 0,92 2.906,21
Impressões/gravações 632 0,64 2.011,23
Fabricação de veículos 425 0,43 2.501,29
Fabricação de farmoquímicos 174 0,18 3.608,33
Equipamentos de informática 52 0,05 2.128,79
Fabricação de equipamentos de transportes 36 0,04 5.605,14
Fabricação de fumo 20 0,02 1.694,12

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS (2021).

De acordo com a RAIS (2021), detalhada no quadro 5, de um total de 108.632 empregos no setor industrial, a maior parcela (98.207), ou seja, 90,4% pertence à indústria de transformação com remuneração média salarial abaixo da média geral da indústria (R$ 2.769,64). Portanto, a média geral da remuneração apresenta variações em que os setores de maior complexidade apresentam maior remuneração; já aqueles setores menos intensivos apresentam menor média de remuneração.

É fato que níveis salariais mais elevados possuem relação direta com fatores como a elevada complexidade econômica ou o elevado índice tecnológico de um dado processo produtivo que, por sua vez, requererá mão de obra mais bem qualificada. Pode ser também considerado o aspecto geográfico, ou seja, em quais municípios do estado de Mato Grosso do Sul (neste caso) estão concentradas as atividades industriais com índice tecnológico mais elevado e vice-versa[1].

De acordo com Reinert (2008), os países desenvolvidos da Europa Ocidental perceberam ainda no século XVII que, para se desenvolverem, era preciso investir numa base industrial avançada, além da formação de serviços sofisticados com rendimentos crescentes (produtos de maior valor agregado).

O desenvolvimento do setor industrial possui relação estreita com o aumento real dos salários. O setor industrial é um dos setores que apresenta maior remuneração no estado de Mato Grosso do Sul (2° maior média de remuneração). De acordo com o quadro 5 acima apresentado, a média salarial geral do setor industrial é de R$ 2.907,71. A indústria de transformação abrange um total de 98.207 empregos. Destes, um total de 50.529 empregos (51,45%) pertencem ao setor de fabricação de alimentos. Já no setor de alimentos foram contabilizados 31.656 empregos. 62,64% pertencem ao de abate de animais, o qual possui remuneração média de R$ 2.344,65, 19,36% menor do que a média geral do setor.

Apesar de a média salarial do setor industrial do estado de Mato Grosso do Sul ser superior à de alguns setores, há dados que mostram que o setor também apresenta problemas quando comparado com o restante do país. Por exemplo, mais da metade dos empregos da indústria de Mato Grosso do Sul é composta por cargos com baixa remuneração, se comparados com a média nacional, que é R$ 3.528,29.

O fato de o Brasil estar presenciando um encolhimento no setor industrial, conforme mostra Bresser Pereira (2010), reforça a redução da massa salarial geral, já que a maioria dos outros setores paga salários ainda menores.

Em relação ao setor industrial do estado de Mato Grosso do Sul (quadro 5), nota-se que os 6 setores de maior remuneração concentram apenas 19,22% dos empregos na indústria 3

 Mesmo aqueles subsetores que apresentam média geral superior, apresentam divisão interna onde o maior percentual é ocupado por atividades de menor complexidade e, portanto, menor remuneração. É o caso do setor da fabricação de celulose e papel. A média salarial geral deste setor é R$ 4.947,17. Entretanto, dentro deste setor há uma subdivisão onde existem 229 empregos (3,3% dos empregos), que ocupam cargos na fabricação de produtos de “papel cartão”. Neste setor, estão inseridos alguns processos produtivos que envolvem maior complexidade de execução, ou seja, de maior valor agregado. O referido setor, acaba exigindo maior qualificação profissional a exemplo do uso de softwares para criação de mercadorias mais complexas. A média geral nesta subdivisão salta para R$ 6.470,09, 122,5% a mais do que a média geral do setor industrial.

Outro fator que influencia no nível de remuneração, diz respeito ao nível de desenvolvimento do setor produtivo nos diferentes municípios do estado. Há municípios onde o nível de desenvolvimento de sua estrutura produtiva se encontra em patamares superiores em relação a outros espaços. É exemplo disso o caso do município de Três Lagoas (leste do estado), que por razões tanto endógenas quanto exógenas teve significativo desenvolvimento em seu nível de desenvolvimento industrial. De acordo com IBGE (2022), o município é responsável por 26,85% do PIB total industrial de Mato Grosso do Sul. Concentra a maior parcela dos empregos no setor de papel e celulose (principal matriz produtiva do município). A fabricação de papel e celulose representa um dos setores de maior remuneração, abrigando um total de 4.089 empregos, o que representa 60,13% do total de empregos de Três Lagoas. A média salarial é de R$ 6,162,17, ou seja, 24,5% maior do que a média geral, que é de é R$ 4.947,17 conforme já citado.

Para concluir, pode-se afirmar que:

  • Os setores de serviços e indústria concentram 66,97% do total dos empregos formais no estado;
  • O setor público participa com 31,3% do total dos empregos formais no estado de Mato Grosso do Sul;
  • O setor público impulsiona para cima a média salarial, apresentando importante papel para o mercado interno, principalmente nos municípios em que a concentração de renda é mais expressiva;
  • Setores que apresentam maior complexidade, relacionados principalmente ao setor industrial, representam um percentual pequeno em relação ao total de empregos;
  • Há concentração maior dos empregos com remuneração mais alta nos poucos municípios que se apresentam como polos no contexto do estado de Mato Grosso do Sul, como é o caso de Campo Grande, Três Lagoas e Dourados.

Referências utilizadas

BRASIL. RAIS. Ministério do Trabalho. Relação Anual de Informações Sociais. 2021. Disponível em: http://www.rais.gov.br/sitio/index.jsf. Acesso em: 20 jun. 2023.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO NO BRASIL. Bresserpereira.Org.Br, São Paulo, p. 1-8, out. 2010. Disponível em: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=DESENVOLVIMENTO+E+SUBDESENVOLVIMENTONO+BRASIL. Acesso em: 4 jul. 2023.

REINERT, Erik s. Como os países ricos ficaram ricos: e por quê os países pobres continuam pobres. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. Tradução Caetano Penna.

Notas explicativas

[1] O Quadro 1 apresenta situações muito variadas, exigindo análise mais cuidadosa no que respeita à presente discussão. Por exemplo, os dados relativos ao município de Selvíria apresentam o setor “indústria” como aquele com maior participação disparada em relação a outros setores (82,36%). Ainda com relação ao setor “indústria”, esse é o maior índice dentre todos os municípios do estado de Mato Grosso do Sul.

[2] Fabricação de coque e biocombustíveis; fabricação de celulose e papel; metalurgia; fabricação de produtos químicos; fabricação de farmoquímicos e fabricação de equipamentos de transportes.

[3] A definição de município polo segue a metodologia da SEMADE/MS.

[4] RAIS 2021 e IBGE 2022.[:]